por homens melhores

O VALE DOS MORTOS VIVOS

27-01-2012 19:23

Certa vez, enquanto esperava pela chegada do onibus com destino a minha casa, a conversa entre dois homens despertou meu interesse, e como falavam displicentemente, fiquei atento ao que diziam. O assunto entre eles era; drogas, usuários e coisas do gênero, misturado ainda a assuntos de fé e  politica com uma dose de revolta e sarcasmo.

Comentavam a respeito das dificuldades de se combater o crime organizado, pois, diziam eles,ha muitos interesses e interessados ocultos, para que ações de enfrentamento gerem bons resultados.

Faziam referencia ao dinheiro exorbitantes que movimenta o tráfico e que isto é uma grande causa da corrupção, pois, "todo homem tem seu preço ", afirmavam eles e que por isso combater tenazmente as organizações criminosas, deixa de ser interesse de alguns, que ficariam assim sem  o seu " quinhão ".

Falavam e divagavam entre muitos tópicos, quando então começaram a falar da Biblia, mais precisamente sobre os leprosos daquela época.

Comentavam como eram tratados, separados da sociedade, carregando um sinete ao pescoço, o qual era badalado, para avisar aos outros de sua aproximação. Debatiam os sofrimentos e rejeições que sofriam tendo que abandonar os familiares sãos, para ir morrer á  margem da sociedade, sem assistencia médica de maneira desumana.

O modo como argumentavam sobre os leprosos, conferia a eles a aparencia de quem muito se preocupa com o bem estar do seu próximo, de quem deseja somente o melhor para seu semelhante,  e se eu tivesse me retirado enquanto falavam dessas coisas, não teria me surpreendido com o que ainda estava por ouvir.

Após alguns minutos explanando essa situação um falou para o outro que na opinião dele os governos mundiais deveriam criar, um lugar que denominariam, não de " o vale dos ossos secos " más sim " o vale dos viciados, dos zumbis, o VALE DOS MORTOS VIVOS.

 

                                           Imagem

                                           Crédito da imagem:  https://www.snpcultura.org/id_a_primeira_palavra.html

Deveria ser, segundo eles  um lugar bem afastado da civilização, de dificilimo acesso e igualmente quase impossivel de se fugir. Uma mata muito densa, ou quem sabe uma ilha sugeriam.

Para estes lugares seriam levados, todas as pessoas viciadas em todos os tipos de drogas proibidas, todos os que se recusam a receber tratamentos, todos os que fogem das clinicas especializadas onde estão em tratramento como tambem os que tem recaidas e retornam ao vício.

Ali naquele lugar viveriam o resto de suas vidas, não teriam trabalho, pois não gostam de trabalhar; não teriam regras, pois, não gostam de seguir regras.

A única coisa com o que teriam de se preocupar seria consumir a sua droga preferida, pois a mesma lhes seriam fornecida, lançada por aviões, toda vez que se ajuntasse grande quantidade de entorpecente apreendida nas investidas policiais contra o tráfico. Ali cada qual cuidaria de pegar a sua porção e consumiria á vontade até sucumbir por causa de seu vício insaciável.

Aos traficantes, continuava a falar um deles, aqueles que fossem capturados, ser-lhes -ia   ministrado doses das mesmas substancias viciantes que vendiam, e quando demonstrassem grande dependencia quimica e psiquica, também seriam levados para o mesmo lugar, para que  provassem do mesmo veneno com o qual destruiram tantas vidas.

Enquanto um falava essas coisas,o outro deve ter percebido que eu os ouvia, quase atônito, e procurava atravez de ponderações mais leves amenizar a forte idéia do outro, más aquele não se cansava, estava empolgado com sua " idéia genial ", e  perguntou ao outro, -Será que assim resolveriam esta questão?

Calou-se por alguns segundos e então respondeu a sua propria pergunta.  

Acho que logo criariam dois lugares distintos, o" VALE DOS MORTOS VIVOS  RICOS" e o "VALE DOS MORTOS VIVOS POBRES" e os ricos com certeza receberiam as drogas mais puras, higiênicamente empacotadas, seringas descartáveis novas e doses ponderadas para não sucumbirem tão rapidamente, afinal são da " elite ".

Ainda falava o homem, parecendo não ter esgotado o assunto, quando finalmente chegou o meu onibus, eu, de dentro do coletivo percebi que ainda conversavam ,más, se é sobre o mesmo assunto, isto eu já não sei .

Celso Bueno da Silva