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“Hoje digo que o meu filho morreu”, diz mãe de viciado em crack
Comunicação Portal Social
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Dona Ruth cansou. Moradora de um apartamento de classe média no Bairro das Nações, em Balneário Camboriú (SC), ela se apega à fé para suportar ser testemunha da degradação do filho de 36 anos, viciado em drogas há duas décadas. Ele, pai de três filhos entre oito e 14 anos, está desaparecido desde o fim de semana, quando denunciou a mãe por porte ilegal de arma. Naquele dia, ele vendeu os móveis para comprar crack e a mãe o flagrou no momento em que saía em busca de compradores para as próprias roupas. Ela usou o revólver, que estava sem munição, para intimidá-lo.
“Na semana da eleição, deixo um recado para os políticos: preocupem-se com o mundo das drogas. Acabou este negócio de que só pobre, sem casa, sem família e sem estrutura se mete com drogas. O problema existe em todos os lugares, com qualquer pessoa. Espero que a minha história possa ajudar ou pelo menos alertar outras pessoas”.
Formado em curso técnico superior de Eletrônica e funcionário de uma distribuidora, o filho de Dona Ruth ficou de novembro do ano passado até agosto sem usar drogas. Mas a segunda esposa não aguentou a barra, saiu de casa e ele teve nova recaída. Ontem, ela colou no carro um adesivo de desabafo: Perdi Meu Filho Para as Drogas.
O começo
A mãe de 60 anos conta que a mudança de comportamento do filho ainda adolescente alertou-a para o vício. O garoto que então tinha 16 anos começou a usar maconha por curiosidade e nunca mais saiu do mundo das drogas. Ele passou por 18 internações em Balneário Camboriú, Blumenau e São Bento do Sul, sempre com o apoio da mãe. A primeira esposa pediu separação e hoje mora com os três filhos em Curitiba (PR).
“As crianças têm ciência do problema do pai. Mesmo assim, o amam. Em julho, eles passaram as férias juntos. Em conversa com o mais velho, de 14 anos, meu filho pediu perdão, prometeu mudar, mas não adiantou”.
Dona Ruth conta que o filho era um adolescente calmo e apegado à família. Apesar de ter sido criado sem a presença diária do pai, sempre teve conforto, estudo, assistência médica e situação financeira estável.
“Eu fiz de tudo para ele se recuperar. Peguei até dinheiro emprestado. Se for contabilizar, eu poderia ter apartamento e carro novos”.
A esperança
A última internação de Paulo foi no ano passado. Ao sair da clínica, em novembro, a mãe mobiliou um apartamento para ele, que começou a trabalhar e casou. Na metade do ano, veio a separação e a recaída.
“Comecei a achar o meu filho muito grosseiro. Ele negou que estivesse usando drogas de novo. Mas eu logo percebi porque ele me acusava das coisas. Esta é a típica atitude de um usuário de crack”.
Eles brigaram e ficaram três semanas sem contato. No fim de semana, um colega contou a Dona Ruth que os móveis e eletrodomésticos do apartamento haviam sido trocados por crack. Para a mãe, foi o fim.
“Passei a noite inteira sem dormir. Sábado peguei a arma que era herança, muito antiga, e fui atrás do meu filho. Eu não queria matá-lo, só queria dar um susto”.
O encontro dos dois foi no meio da Avenida Palestina. Quando uma viatura passou, ele a denunciou por porte ilegal de arma. A polícia liberou Dona Ruth sem necessidade de fiança. Católica, ela pede proteção a Deus todos os dias para que acabe o sentimento que jamais imaginou que sentiria:
“Hoje digo que o meu filho morreu. O que ele fez para mim foi muito grave. Mas, no fundo, eu espero que esta história termine bem”.
*O nome citado é fictício para preservar os envolvidos
Fonte: Diário Catarinense